INTRODUÇÃO
A desnutrição energético-protéica (DEP) na criança com câncer tem sido registrada em 8 a 60% dos pacientes; associada ao tratamento oncológico, pode aumentar a morbidade, diminuir a função imunológica e a resposta ao tratamento, reduzindo a qualidade de vida.(1) Em cuidados paliativos, na maioria dos casos o paciente apresenta algum grau de desnutrição, decorrente do tratamento agressivo e devido à anorexia comum nessas crianças.(2)
Os objetivos da terapia nutricional nos pacientes em cuidados paliativos irá mudar conforme a progressão da doença.(3)
Fase inicial:
– manter ou recuperar o estado nutricional
– evitar a progressão da desnutrição
Fase terminal:
– promover a sensação de bem-estar e conforto
– promover a qualidade de vida
– alívio dos sintomas (náusea, vômito, anorexia, constipação, diarréia desidratação, disfagia, xerostomia, desidratação).(4)
Nesta fase, mais do que recuperar é importante manter o estado nutricional, de forma a proporcionar qualidade de vida à criança.
A alimentação deve ser adequada aos hábitos e às condições clínicas da criança, utilizando alternativas caseiras ou industrializadas para aumentar o aporte nutricional. Podem ser oferecidas combinações de alimentos, como por exemplo milk shakes ou vitaminas com suplementos, ou mesmo substituir uma das refeições por lanches, visando estimular o apetite. A inclusão de alimentos da preferência das crianças, como iogurtes com sabor e achocolatados, são alternativas para estimular e tornar o momento da refeição “mais gostoso”.
A dieta via oral deve ser a primeira opção, sempre que possível, avaliando-se as seguintes questões(3):
– capacidade da criança se alimentar
– grau de desconforto da criança
– nível de consciência
– disfagia
– dor
– respeitar as preferências da criança
– adaptar a consistência da dieta
Para aqueles pacientes nos quais a dieta por via oral não é possível ou insuficiente para suprir as necessidades diárias, e que possuem o trato gastrointestinal intacto, a terapia enteral tem tido sucesso na manutenção do estado nutricional, além de preservar a integridade da mucosa intestinal.(5)
A escolha da terapia nutricional deve ser criteriosa. Em muitos casos, os pais demonstram resistência em relação à nutrição enteral, preferindo a terapia parenteral com o intuito de poupar a criança de mais um processo invasivo. Tanto nas crianças quanto nos adolescentes que já estão muito sensibilizados com o tratamento, em alguns casos a passagem de sonda pode ser mais uma forma de agressão, necessitando em alguns casos de acompanhamento psicoterápico.
Antes da introdução de algum tipo de terapia nutricional, as seguintes questões devem ser respondidas(6):
– quando iniciar com a terapia nutricional enteral ou parenteral?
– qual terapia nutricional adotar?
– quem deve decidir? (avaliar os benefícios, considerar o estado clínico, observar o nível de consciência)
– a terapia nutricional promove o seguimento da criança, conforto emocional, diminuição da ansiedade, além de conforto para a criança e família?
O trabalho em Pediatria, em especial na área de Oncologia Pediátrica, é um trabalho que exige muita dedicação e paciência. São crianças que estão passando por uma fase difícil. Cada caso é um caso, cada paciente merece uma atenção especial. Devemos tratar a criança e não a doença, sem nunca esquecer que elas são crianças, e não adultos em miniatura.
Para os pacientes em cuidados paliativos, é necessário respeitar a decisão dos pais, mas principalmente a decisão da criança. O trabalho em conjunto é essencial. Os pais, muitas vezes, sofrem mais que as próprias crianças, mas são grandes aliados para o tratamento. O fato do filho não conseguir comer é um motivo de grande preocupação. Quando a criança não consegue se alimentar, ou melhor, quando eles não conseguem alimentar o filho, é um motivo de grande frustração.
Cada caso deve ser acompanhado individualmente, avaliando-se os benefícios da introdução de algum tipo de terapia nutricional, reavaliando-se constantemente em relação ao estado clínico da criança.(7)
REFERÊNCIAS
1. Ladas EJ, Sacks N, Brophy P, Rogers PC. Standards of nutritional care in pediatric oncology: Results from a nationwide survey on the standards of practice in pediatric oncology. A Children’s Oncology Group study. Pediatr Blood Cancer 2005 May 30.
2. Beardsmore S, Fitzmaurice N. Palliative care in paediatric oncology, Eur J Cancer 2002 Sep;38(14):1900-7.
3. Eberhardie C. Nutrition support in palliative care. Nurs Stand 2002 Sep14-Oct 1;17(2):47-52.
4. Vogelzang JL. Quality end-of-life care: where does nutrition fit? Home Health Nurse 2001 Feb;19(2):110-2.
5. Han-Marrey T. Nutritional considerations in pediatric oncology. Semin Oncol Nurs 2000 May;16(2):146-51.
6. Bozzetti F, Amadori D, Bruera E et al. Guidelines on artificial nutrition versus hydratation in terminal cancer patients. European Association for Palliative Care. Nutrition 1996 Mar;12(3):163-7.
7. Position of The American Dietetic Association: issues in feeding the terminally ill adult. J Am Diet Assoc 1992 Aug;92(8):996-1002-1005.
Edna Shibuya
Nutricionista Titular do Serviço Departamento de Nutrição e Dietética do Hospital do Câncer – A. C. Camargo, da Fundação Antonio Prudente. Nutricionista Responsável no Grupo de Cuidados Paliativos do Departamento de Pediatria do Hospital do Câncer
Texto retirado da Revista Prática Hospitalar